BNCC – É preciso retroceder para poder evoluir

A BNCC (base nacional comum curricular) é um documento que direciona os currículos escolares, visando garantir os direitos de aprendizagem mínimos que os estudantes devem possuir.

Até 2019, todas instituições de ensino deverão estar preparadas para essas novas regras da BNCC.

E por que desta nova exigência?

Constata-se que o mercado de trabalho tem sido impactado pelas questões comportamentais e a dificuldade de lidar com as emoções.

É perceptível o percentual significativo de profissionais contratados pela quantidade de conhecimentos adquiridos, mas demitidos pelo comportamento.

Há a clareza de que trabalhar as emoções é fundamental para promover o pensamento autônomo dos estudantes, além de suas potencialidades.

Algumas instituições de ensino já estavam muito adiante nesta proposta de desenvolver as competências socioemocionais, porém algumas, na resistência de quebrar seus paradigmas, acabaram reforçando as práticas tradicionais. Em contrapartida, ocorreu o distanciamento das competências socioemocionais que ficaram banalizadas pelo acúmulo de conhecimentos adquiridos.

Para atuarmos efetivamente no desenvolvimento das competências socioemocionais, é fundamental que ocorra a quebra de paradigmas educacionais e que se tenha um olhar diferenciado, ações e práticas interpessoais, afastando-se do foco conteudista.

Não é possível mudarmos prática se não mudarmos o pensamento, de reconhecermos discentes enquanto seres integrais, não pela quantidade de conhecimentos adquiridos mas como os mesmos os administra em suas relações.

É preocupante a quantidade de jovens que não conseguem lidar frustrações corriqueiras e a dificuldade em externalizar seus sentimentos.

Vale lembrar que o acúmulo de conhecimento não resolve desafios, mas a capacidade de superar desafios contribui para o conhecimento de maneira significativa.

A proposta é que essas competências socioemocionais sejam desenvolvidas, não especificamente através da disciplina ou aula especial, mas sim com práticas diferenciadas.

É possível trabalhar conteúdos tradicionais com práticas que contribuam no desenvolvimento das competências socioemocionais.

Por conta disso, as competências do século XXI estão em evidência na BNCC onde algumas delas estão intimamente relacionadas as competências socioemocionais:

  • Apropriar-se de conhecimentos construídos sobre o mundo social, físico e cultural
  • Pensamento científico, crítico e criativo
  • Repertório cultural: acesso às artes de forma geral.
  • Capacidade de comunicação, expressar ideias e opiniões, usando não só o escrito, mas outros meios.
  • Desenvolvimento da cultura digital, desenvolver conhecimento em cima disso, saber lidar com as ferramentas, mas entendendo as tecnologias com o melhor uso.
  • Capacidade para argumentar. Trazer elementos e as evidências para defender suas ideias com assertividade.
  • Importância de desenvolver a capacidade de gerir a sua própria vida, preparar-se ao que se propõe.
  • Capacidade de autoconhecimento e cuidado com o corpo e emoções.
  • Desenvolvimento social. Capacidade de reconhecer o mundo, entender direitos, deveres, responsabilidade social.
  • Desenvolvimento da autonomia.

Por fim, essas adequações nos fazem pensar que é preciso retroceder para poder evoluir. É fundamental que sejam resgatados os valores e vivências do passado, onde não havia a facilidade de tudo, onde era necessário traçar metas e lutar para que objetivos fossem alcançados, onde era exigido suor para que esses objetivos fossem alcançados, onde havia-se diálogo, onde as palavras respeito e responsabilidade eram fundamentais e não estavam apenas no discurso mas sim, faziam parte das nossas ações, onde os valores aprendidos estavam relacionados ao SER e não ao TER, onde o respeito aos pais era primordial e não a necessidade de barganha do amor através de satisfações materiais, onde a frustração estava ligada ao sentimento propriamente dito e não na aquisição de bens materiais, onde criava-se brinquedos e brincadeiras e não a inércia de esperar algo pronto, sem sentido e sem objetivo, onde ir na casa dos avós e brincar com terra proporcionava uma felicidade sem tamanho, onde o piquenique era algo maravilhoso porque estava-se em família e compartilhava-se com irmãos, primos e amigosonde tinha-se como premissa, o compartilhar, onde o brincar em grupo sem brinquedo algum, tinha mais sentido do que brincar sozinho com um brinquedo mega sofisticado ou muito tecnológico.

É necessário resgatarmos urgentemente os valores aprendidos no passado para agirmos com ética e, acima de tudo, reconhecermos que conhecimento não tem nada a ver com sabedoria.

É necessário descermos do pedestal com a visão soberba de que somos os detentores do conhecimento, e este nos distancia dos demais. E, se assim ocorrer, significa que estamos muito aquém das competências socioemocionais.

Um homem sábio é aquele que age com caráter, sensatez, discernimento e com a clareza de que o conhecimento só faz sentido, quando compartilhado através de suas relações, através da troca de experiências e divergência de opiniões.

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Regiane Pinheiro Psicóloga com especialização em gestão de pessoas nas organizações. Atuante na área da educação e orientadora vocacional.