Prazer, sou um escritor fantasma — ou ghost-writer para os íntimos

Dias atrás me encontrei com uma senhorinha que me viu crescer. Logo depois dos cumprimentos formais, a corriqueira pergunta surgiu:  “com o que você trabalha?”. Ora, se já não é fácil explicar para as novas gerações a minha profissão como ghost-writer — ou escritor fantasma, em português —, imagine para ela que dava seu primeiro choro, de estreia no mundo, quando Getúlio Vargas era eleito por voto direto. Tentei facilitar e usei minha formação como argumento. “Sou jornalista”, respondi. “Sim”, ela insistiu, “mas nunca vejo você trabalhando em jornais…”. Cercada por todos os lados, entreguei a resposta que provocaria um curioso arquear de sobrancelhas e muitas perguntas depois.

Ser escritor fantasma é como carregar uma barriga de aluguel, você gera a criança, sente-a piruetar em seu ventre, mas ao chegar o dia em que ela brilhará para o mundo com seu rostinho mágico e perfeito, você precisará virar as costas e entregá-la à verdadeira mãe. E, então, por mais amor que você sinta por aquela criaturinha, você nunca poderá assumi-la. Pois bem, para que entenda, sou o socorro daqueles que precisam ou carregam o nobre desejo de assinar seu próprio livro, mas que, às vezes pelo tempo escasso, outras vezes pela falta de conhecimento, nunca conseguiriam escrever uma obra sozinho.

Cabe ao ghost-writer, a partir de incansáveis entrevistas e infindáveis horas de gravações de áudios, atuar para que aquela nova história tenha, como essência, os sentimentos daquele que o contratou e, de forma alguma, sua própria opinião ou emoções. Assinamos um contrato de sigilo e de concessão de direitos autorais, de forma que ninguém nunca saberá quem realmente formulou o texto do livro ou e-book publicado.

Como é muito bem pontuado no filme “O escritor fantasma”, do diretor Roman Polanski, “Ghost-writers não são convidados para festas de lançamento. Somos uma vergonha como uma amante num casamento”. Você nunca terá seu trabalho indicado por alguém que o contratou como ghost-writer, bem por isso, toda vez que um projeto termina é como se sua carreira começasse do zero.

Escrever livros profissionalmente é um trabalho complexo que exige tempo, dedicação e coragem. Essa profissão chegou em minha vida como se não quisesse nada, mas veio para mudar a minha história e me fazer viver por aquilo que faz meu coração bater: escrever. Ela surgiu em minha vida de uma maneira muito especial e, desde então, tem me feito conhecer a graça de realizar o sonho daqueles que, à risca, querem cumprir as três etapas da imortalidade: plantar uma árvore, ter um filho e escrever um livro.

Sobre Larissa Molina 7 Artigos
Larissa Molina é uma sonhadora otimista que desde os 12 anos de idade acreditou em seu caminho como autora. Seu livro “A Intocável – Um amor, um pacto, uma renúncia”, escrito em coautoria com uma amiga, é seu primeiro romance lançado em formato físico, mas sua trajetória como jornalista, escritora, revisora e ghost-writer, já conta com cinco livros publicados. Por acreditar no autor nacional, criou um Canal no YouTube, o qual leva o seu próprio nome, para conversar com esse público e também com seus leitores.