Investimentos diretos no Brasil despencam para US$234 mi e têm pior abril em 25 anos

Os investimentos diretos no Brasil despencaram em abril a apenas 234 milhões de dólares, pior resultado para o mês desde 1995 (167,9 milhões de dólares), numa mostra da falta de apetite dos investidores por ativos no país em meio à profunda crise com o coronavírus.

Ao mesmo tempo, os efeitos econômicos decorrentes da paralisação de atividades para frear o contágio de Covid-19 fizeram as transações correntes terem superávit de 3,840 bilhões de dólares em abril, recorde para a série histórica mensal do Banco Central iniciada em janeiro de 1995.

Em pesquisa Reuters, a expectativa era de investimentos diretos no país (IDP) de 1,9 bilhão de dólares, sendo que o próprio BC estimava ingressos líquidos de 1,5 bilhão de dólares.

Já para as transações correntes a projeção do mercado era de superávit menor, de 3 bilhões de dólares, enquanto o BC esperava saldo positivo de 2 bilhões de dólares.

No caso do IDP, o dado representou uma acentuada queda ante ingressos líquidos de 5,107 bilhões de dólares em abril de 2019. O resultado, divulgado nesta terça-feira pelo BC, veio na esteira de desinvestimentos de 834 milhões de dólares, enquanto no mesmo período do ano passado as empresas haviam reinvestido no país 2,915 bilhões de dólares em participação no capital.

Já a conta de novos investimentos caiu a 1,154 bilhão de dólares em abril, ante 2,750 bilhões de dólares um ano antes.

Em coletiva virtual de imprensa, o chefe do departamento de Estatísticas do BC, Fernando Rocha, avaliou que a diminuição expressiva do IDP não parece indicar cancelamento de projetos, mas adiamento das decisões em maio às incertezas da crise.

“Por qualquer uma das métricas utilizadas pelos economistas você tem incerteza muito grande sobre o que está acontecendo na economia brasileira”, afirmou ele.

As transações correntes consideram o fluxo de bens e serviços entre os residentes do Brasil e o restante do mundo. Em meio à derrocada na economia com as medidas de distanciamento social, o déficit na conta de renda primária e de serviços tem caído fortemente.

Em abril, houve recuo de 59,7% no rombo da conta primária, a 1,557 bilhão de dólares. A remessa de lucros e dividendos para o exterior foi de apenas 4 milhões de dólares, contra 2,250 bilhões de dólares em abril do ano passado.

Já o déficit na conta de serviços caiu 63,4% sobre o mesmo mês do ano passado, a 1,208 bilhão de dólares, fortemente afetado pela retração de 91,2% nas despesas líquidas de viagens, que totalizaram 90 milhões de dólares em abril deste ano contra 1 bilhão de dólares em igual etapa do ano passado.

Na prática, os brasileiros têm gastado significativamente menos em viagens no exterior com as restrições para deslocamentos e com a expressiva alta do dólar frente ao real.

Por outro lado, houve aumento no superávit da balança comercial, o que também contribuiu para o superávit expressivo nas transações correntes em abril.

O saldo das trocas comerciais ficou positivo em 6,437 bilhões de dólares, frente a 5,125 bilhões de dólares um ano antes, diante de uma queda mais pronunciada na ponta das importações do que nas exportações.

De janeiro a abril, o déficit em transações correntes somou 11,877 bilhões de dólares, recuo de 29,9% sobre igual período de 2019. Em 12 meses, o rombo caiu a 2,61% do Produto Interno Bruto (PIB).

Já o IDP foi 18,043 bilhões de dólares nos quatro primeiros meses do ano, alcançando 4,31% do PIB em 12 meses.

Para maio, o BC previu um superávit em transações correntes de 3,1 bilhões de dólares e IDP de 1,5 bilhão de dólares.

(Créditos: Agência Reuters)